O pastor romano: a vida para além de…

Duas da tarde.
Romano, tinha deixado a pastorícia e dedicou-se a partir de então à actividade de comerciante.
Após o grave incidente a que se submeteu nunca mais foi o mesmo. Agora andava devagar e apoiado num cajado que tão bem conhecia e tão más recordações lhe trazia.

Romano deixou de falar. As únicas palavras que dizia era ovelhas e maldito sejas, cão!
Já vivia sozinho mas a partir daquela ocasião foi viver para uma serra onde não existia viva alma.

O pastor romano tinha uma bancada na feira da aldeia. Vendia legumes e fruta.

Certo dia, ainda o sol estava a nascer, viu o que desejou nunca mais ver. Fechou os olhos e rezou cheio de fé para que quando os abrisse estivesse noutro ponto do mundo que não aquele.

Mas os santos nada queriam com ele. Abriu os olhos e no cimo da colina mais alta, como se de uma varanda se tratasse, viu uma silhueta muito peculiar. Primeiro pensou que se tratasse de um lobo mas logo o sol subiu e viu a realidade a cores. O cão estava em duas patas, apoiado no cajado que já não estava ao lado dele. Pouco a pouco surgiram ao lado dele, uma a uma, as cabeças das ovelhas, dezenas. Com elas vinham os carneiros. Centenas de animais estavam no cimo da colina.
Romano só gritava num sussurro preso e aflito: ovelhas, muitas ovelhas. Ovelhas!
Começou a deambular pela avenida principal, ninguém o ouvia, ninguém lhe ligava. Romano estava sozinho, estava louco. Mas acima de tudo estava com medo. Correu até não mais poder, com todo o esforço inerente a isso. Rebentaram-lhe as costuras das nádegas e teve de parar.

Romano olhou mais uma vez para a colina e tudo tinha desaparecido. Numa voz triste, desesperado, sem paz alguma, gritou com toda a força que conseguiu:

- “Já paguei o suficiente, DESAPARECE DA MINHA VIDA”

Avô Kimera