quinta-feira, dezembro 16, 2004

Papão

-“Corre!”- diz-me ele.
Mas porquê?
Num primeiro momento não acredito. Quando as coisas más acontecem nunca acreditamos. É como gritar: “olha o lobo” – ninguém acredita, mas um dia o lobo vem mesmo e o pastor fica sem as ovelhas.

-“Corre caraças, olha o papão!”
Admito que esta frase me intrigou um pouco. Vejo a cara de pânico dele e começo a ter algum receio de virar as minhas costas ao perigo. Mas também começo a temer enfrentá-lo.
Viro-me de repente. Não estava lá nada. Atrás de mim não estava nada. Como acreditei nesta parvoíce!

-“Fugiu para debaixo da cama”
O ar dele é cada vez mais de pânico, está no limite de começar a gritar e a fugir.
Não posso acreditar. O papão?! Debaixo da cama?

-“Acredita em mim, por favor. Ninguém acredita em mim. Não deixes que o papão me coma. Imploro-te!”
Tenho o papão dentro do meu quarto, debaixo da minha cama. Interrogo-me como cabe ele em sítio tão apertado. Estou a ficar com medo. Vejo movimentos e sombreados. Estarei maluco?!

Não conseguirei viver assim, tenho que ter a certeza. Coloco-me de joelhos e espreito para debaixo da cama.
Vejo o papão! Foge como uma sombra diabólica. O meu puto está a chorar. Estou a tremer.
Pego o rato mickey como única arma de defesa.

Parado, fitando-me nos olhos, o papão impõe algum respeito em cima do armário.

“Rodrigo, corre e chama alguém. Vai!” – tento convencê-lo a abandonar o quarto.

Agora só eu e o papão. “Lembras-te quando era puto?”- digo-lhe.
“Não te deves lembrar seu papão duma fisga. Mas agora vais pagar tudo o que me fizeste” – exerço alguma pressão psicológica sobre o papão.

“Deixa-me o puto e tudo acaba bem. Só tenho de papar o puto. O puto não comeu a sopa. O mito não acaba assim” – responde ele

-“vá lá, tenho que ir almoçar”

- “Eu vou mas eu volto, não sabes quem é o papão” – e com um silvo agudo, corta o vento com a sua capa “P” de modo a esconder-se por detrás dela. Desaparece transformando-se em pó.

“mas o que se passa” – pergunta a minha vizinha
“corri com o papão” – digo-lhe com algum orgulho, não querendo ser presunçoso e sabendo de que o que fiz não foi mais que o meu dever.

2 comentários:

xp disse...

Eu ia escrever um comentário de jeito, mas desconfio que o papão está escondido no computador.
É melhor ir-me embora...

Miriam Luz disse...

Tu tens qualquer coisa de... de sei lá. Ainda tenho que arranjar uma palavra que te defina =)

Beijo, Litostive*

Visitas aqui ao cú mulo da parvoíce a partir de 11/09/2007 porque perdi o outro antigo

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