Lembram-se do Juvenal?

Olá. O meu nome é Juvenal. Professor Juvenal. Os meus pais decidiram chamar-me assim porque são ambos professores, então acharam por bem dar-me o nome de Professor. Não gosto do meu nome. Na escola sempre fui muito gozado pelos meus colegas, para além de que este nome causava muita confusão entre os meus professores. Mas sobre isto falarei mais à frente. Primeiro vamos tratar de algumas formalidades. Aos meus amigos peço-lhes para que me tratem apenas por Juvenal, mas a vocês, numa fase inicial, peço-vos para que me tratem por Professor Juvenal.
Venho de uma família conservadora. A minha mãe dava aulas num liceu católico, daqueles em que os alunos têm de usar uniforme. Era professora de História. O meu pai esteve quase para ser padre. Só não o foi porque conheceu a minha mãe na catequese. Ás vezes penso que teria sido melhor o meu pai ter seguido o sacerdócio. Acabou por dar aulas no mesmo liceu da minha mãe. Dava aulas de Teologia.
Tive uma educação católica e nunca ousei questionar a autoridade. Sempre vivi reprimido, até que, quando cheguei ao fim do liceu, decidi revoltar-me!
Acabei o 12º e segui Sociologia. Os meus pais queriam que eu fosse para Medicina, mas, só para chatear, pus Medicina em 2º opção. Tinha média para entrar, mas decidi experimentar Sociologia porque iria passar a ter colegas que iriam fazer corar de vergonha os meus pais. Passei a ser um deles.
Comecei a vestir roupas largas e coloridas, coloquei umas quantas tranças no cabelo e passei a tomar banho somente uma vez por semana. Adeus camisas a mostrar a etiqueta, adeus franja, adeus sapatos de vela, olá meias!
Quando cheguei assim a casa pela primeira vez, o meu pai sentiu-se mal e foi parar ao hospital. Quando recuperou e voltou para casa, disse-lhe que tinha entrado para o Chapitô. Está em coma desde então. A minha mãe aguentou tudo imperturbável. O meu pai não, sempre foi um fraco.
Enfim, o que é que se há de fazer?

Adeus e até um dia,
Professor Juvenal.