domingo, julho 15, 2007

Joaquim

Joaquim era um pobre coitado que costumava mendigar por cigarros e ameixas à porta do Metro.

A sua sorte era a sorte de muitos. Joaquim não era nada original. Tudo o que fazia era copiado de alguém. Mendigava cigarros em homenagem ao seu avô, morto na Guerra Colonial. Mendigava por ameixas porque gostava. Se fosse a única pessoa no mundo a gostar de ameixas, Joaquim seria original. Mas não é.

Certo dia alguém lhe perguntou porque mendigava junto ao Metro. Joaquim tremia de medo sempre que alguém lhe dizia alguma coisa. Naquele dia, Joaquim sabia quais as suas hipóteses. Podia ser morto a qualquer momento. Joaquim não tinha medo de morrer, tinha medo de viver. Sempre que se apanhava constipado, ficava esperançado.

Joaquim era fruto da imaginação de Manuel.

Manuel era um ser frustrado, que vivia a sua vida tal como lhe mandavam. Manuel ocupava os poucos tempos livres a pensar no que fazer para não ter tempos livres. Quando trabalhava, o público aplaudia. Manuel era um golfinho de um parque aquático. Obediente e subserviente, Manuel era o sonho de qualquer dono de parque aquático. Trabalhava incansavelmente para entreter o público.

Não tinha liberdade, mas se a tivesse, não saberia o que fazer com ela. Preferia ter alguém a pensar por ele. Cansava-se menos dessa maneira.

Chegado o Verão, Ricardo, companheiro de Joaquim, começou a chatear Manuel com banalidades. Ricardo, persistente, criou em Manuel um sentimento de constante desconfiança e mau estar.

Joaquim acaba por assassinar Ricardo, e posteriormente Manuel. Ao matar Manuel, Joaquim suicidou-se.

Deixou de mendigar por cigarros e ameixas.

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