Voltarei a acordar?

Estou à beira do rio. Um rio sujo, e com um cheiro a podre que se entranha pelos pulmões, mas magico, sempre agitado como que mostrando vontade de se libertar. Não sei bem o que estou aqui a fazer nem como vim cá parar mas sinto-me bem. A tranquilidade que ele emana limpa-me a cabeça e faz-me respirar devagar sentindo o sal a atravessar-me o corpo. Não sei porque me sinto assim se está um peixe morto a boiar mesmo à minha frente….mas sinto!
Está frio…muito frio…tanto que não sinto os dedos e a ponta do nariz dói-me. Só vejo 10 metros à minha frente porque o orvalho que cai não me permite mais, o que é bom porque não consigo deixar de imaginar o que está à minha frente…e é tão bom não saber o que nos espera…assim esforco-me para descobrir e imagino só coisas boas.
Resolvi descansar… deitei-me pensei em ti! Arrepio-me, o frio entrou-me nos ossos e nem aquele casaco de lã que a minha avó me fez com tanto carinho me protejeu (há frios que nem coisas feitas com amor podem deter). Cerro os dentes e fecho os olhos e passo a fazer parte do rio. Deixo-me ir embalado pelas ondas e enrolado na espuma suave que elas trazem e que me faz lembrar as tuas mãos. E agora? Quando chegar ao mar como vai ser? Vou-me perder... não te vou ter para me embalares, não te vou ter para me guiares, vou ver peixes maus a comerem os mais pequeninos, vou ficar preso numa qualquer rede de um pescador pobre e morrer lentamente provocando um sorriso na cara dele! Não, não quero…, não posso…, agrhhhhhhh….

Acordo, finalmente acordo. Era um pesadelo... ou seria um sonho?! Não sei mas os cereais já tão na mesa e já tou atrasado para a pesca!